Chapada Diamantina com crianças, sim é possível!
Roteiro completo de cinco dias a partir de Lençóis
Tínhamos muitas dúvidas sobre viajar com as crianças para a Chapada Diamantina. A gente não sabia se a região oferecia opções para uma programação em família e se os nossos filhos iriam gostar da viagem.
Muita gente se surpreendeu quando decidimos ir, mas as crianças ficaram curiosas em fazer uma viagem diferente, com passeios em trilhas e grutas, então resolvemos arriscar.
O resultado? Foi ótimo! Os pequenos (na época com 11 e 7 anos) superaram as nossas expectativas e fizeram todos os roteiros sem problemas.
Por isso se você tem vontade de fazer uma viagem de ecoturismo não se preocupe, vamos compartilhar toda a nossa experiência em família para você se programar.
Preparamos um roteiro completo de cinco dias na Chapada, a partir de Lençóis, onde ficamos hospedados.
Para começar, é importante escolher um guia para todos os passeios. Contratamos Felipe Moura na Associação de Condutores de Visitantes de Lençóis e ele nos ajudou muito, inclusive com o nosso caçula.
Optamos pela entidade porque valoriza o trabalho dos guias locais, que atuam no modelo de cooperativa, o que também acaba deixando os valores mais baratos em comparação às agências de turismo.
A diária na associação varia de R$100 a R$200 para até 4 pessoas e depende do grau de dificuldade do passeio. Esse valor é para quem viaja de carro, que foi o nosso caso. Mas também tem guias com veículo próprio, dependendo da necessidade da família.
Dadas as primeiras informações, vamos ao roteiro.
Porém antes de iniciarmos as aventuras, dá uma olhada no vídeo da nossa estreia como família de trilheiros.
Dia 1- Serrano e Ribeirão do Meio, o tobogã da natureza
Pra fazer qualquer passeio e aproveitar bem o dia, é importante acordar cedo e sair, no máximo às 8h, mesmo quando a programação fica mais perto.
Lembre de levar água, uns lanchinhos, boné, óculos de sol, tênis/bota impermeável e com antiderrapante e capriche no protetor solar.
Esse é o kit básico para qualquer trilha, sem falar, é claro, das câmeras.
O nosso primeiro dia foi em Lençóis mesmo, mas nem parecia que estávamos tão perto do centro da cidade.
A paisagem muda assim que entramos na trilha.
Fizemos uma caminhada de apenas 10 minutos até o Serrano, também conhecido como Caldeirões.
De lá desce o rio que corta Lençóis.
O guia nos contou que uma das teorias sobre o nome da cidade vem deste lugar, já que quando o rio está cheio, a imagem da água descendo nas pedras e fazendo uma espécie de espuma branca, dá a impressão de um lençol.
Durante a nossa visita à Chapada, entre Julho e Agosto, o rio estava mais seco, então não deu pra ver o tal lençol.
Salão das Areias Coloridas e poço Halley
Mais 5 min de caminhada entre as rochas depois do Serrano e chegamos ao Salão das Areias Coloridas.
Continuamos nossa caminhada e passamos pelo poço Halley, no rio Serrano.
Cachoeira da Primavera
Agora começamos a subir, mas com atenção e cuidado conseguimos fazer a trilha com segurança.
Para as crianças, a aventura começa agora e já é um treino para o que está por vir.
Depois de cerca de 20 minutos e uma escalada suave, chegamos à Cachoeira da Primavera.
A partir da cachoeira, a subida fica mais fácil e plana. Logo estamos no Mirante de Lençóis ou mirante do Grisante, de onde dá pra ver toda a cidade.
O nome vem da Serra do Grisante, que tem uma altura média de 400 metros acima do nível do mar.
Chegar ao topo foi um desafio para toda a família, mas certamente foi Miguel quem comemorou mais, com direito a muitos gritos de “conseguiiii”!!!!
Uma cena que se repetiu em toda a viagem, rs.
Cachoeirinha
Depois é só descida e por uma caminho diferente. Essa é uma das estratégias dos guias para não deixar o passeio monótono e tudo ser novidade.
Nem sempre dá pra fazer isso, mas nesse caso voltamos apreciando outras paisagens.
São cerca de 15 a 20 minutos do mirante até a cachoeirinha.
Um lugar para botar os pés nas águas geladas da Chapada. Tem gente corajosa que até encara o banho na cachoeira.
As crianças também brincam com a argila vermelha da lagoa que dá até pra fazer desenhos nas pedras.
Ao todo são 2 horas de caminhada leve a partir do Serrano.
Uma boa estreia para os ecoturistas de primeira viagem.
Mas a programação do dia ainda não terminou.
Parada para o almoço
Pausa para o banho no hotel e almoço no centro da cidade.
Ainda vamos conhecer mais uma trilha no período da tarde.
E sim, tem post sobre os restaurantes que experimentamos na coluna Experiências Gastronômicas.
Parque Nacional da Chapada Diamantina
Agora é a vez de visitarmos o trecho do Parque Nacional da Chapada Diamantina que fica em Lençóis.
O acesso é perto do centro da cidade e de várias pousadas ficam a entrada da trilha.
No caminho, tem ponto de apoio com venda de lembrancinhas e a presença dos moradores do parque.
São apenas 3 km de caminhada plana e leve até o Ribeirão do meio, onde fica o tobogã natural.
As crianças fazem a festa escorregando de tudo que é jeito nas pedras, nem lembram da água gelada.
Quer ver como foi? Confere o vídeo dessa folia que também está disponível no nosso canal no Youtube.
Depois do banho, dá para tomar um solzinho nas pedras e ficar aproveitando o lugar até o cair da tarde.
No primeiro dia, completamos um total de 10 km de caminhada de nível médio para as crianças (mais pela trilha da manhã) e de nível baixo para os adultos.
Para encerrar, um jantar delicioso e cama.
É fundamental dormir cedo para aproveitar bem todos os dias.
Dia 2 – Chapada Diamantina com crianças – Poço do Diabo, Gruta da Lapa Doce, Gruta Azul e Morro do Pai Inácio
Na manhã do segundo dia, a primeira parada foi no Mucugezinho, a 20 km de Lençóis.
Bem perto da rodovia fica mais uma beleza natural da Chapada, o Poço do Diabo. O local é uma unidade de conservação ambiental protegida.
Para chegar até o local, temos que caminhar um pouco entre as pedras e o rio e logo avistamos o poço.
O nome do poço, segundo a história oral, vem de antigos rituais que seriam feitos ali.
Hoje o Poço do Diabo é um dos pontos de visitação e banho para turistas de todo o Brasil e até de outros países.
Para deixar o passeio ainda mais divertido para as crianças, os moradores da área protegida aparecem para dar as boas-vindas.
E tem vídeo sobre esse passeio também.
Gruta da Lapa Doce
A próxima atração do roteiro está a 77 km de Lençóis, no município de Iraquara.
A gruta da Lapa Doce fica numa área privada, por isso o acesso é pago.
O local é estruturado com guias e restaurante self-service, foi lá que almoçamos.
Logo na entrada, um enorme umbuzeiro com seus lindos galhos retorcidos nos recebe com mensagens talhadas em pedra sobre a gruta que vamos visitar. Uma delas compartilhamos aqui:
“Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água com sua doçura, sua dança e sua canção. Onde a dureza só faz destruir, a suavidade consegue esculpir”.
O ingresso para visitar a gruta custa R$30 para maiores de 10 anos. Crianças de 5 a 10 anos pagam meia entrada (todos os valores são referentes ao período de Julho a Agosto de 2017).
Para fazer o passeio, todos recebem uma lanterna.
Também é bom levar água porque serão cerca de 2km de caminhada.
Caminho para a Lapa Doce
Durante o caminho até a gruta, vemos muitas espécies da flora da Caatinga, que é o único bioma exclusivamente brasileiro.
As árvores estão identificadas por plaquinhas e a gente aprende sobre a diversidade desse bioma.
No período da estiagem, por exemplo, as plantas perdem as folhas para reduzir o índice de evapotranspiração.
Já para ver as espécies da fauna do Semiárido, tem que ficar com o olhar atento.
A trilha é toda cheia de casinhas de aranha que constroem sua moradia no chão.
Outros insetos também fazem suas moradias nos troncos das árvores.
Mais um momento curiosidade compartilhado por nossa guia.
Qual a diferença entre gruta e caverna? Quem sabe?
A gruta tem entrada e saída em locais diferentes, ao contrário da caverna, onde a gente entra e sai pelo mesmo lugar.
Para chegar à gruta, vamos caminhar na Caatinga e descer 17 metros, mas o o acesso é por escadas com corrimão.
Lapa Doce
A Lapa Doce tem 42 km mapeados, mas só 850 metros são liberados para visitação.
Antes mesmo de entrar, já nos encantamos com a grandiosidade da rocha esculpida pacientemente pela natureza.
Dentro a altura pode variar de 10 a 25 m, com lindas formações, entre estalactites (aquelas que ficam no teto) e estalagmites, esculpidas gota a gota no chão.
A gruta é uma dolina (contrário de colina) de rocha calcária formada pelo lençol freático do rio Pratinha, onde os pesquisadores já encontraram uma espécie de peixe, o bagre cego.
Não dá pra ver o peixe, mas as crianças adoraram sentir as rochas que se desprenderam do teto depois de milhares de ano sendo formadas pela água do rio.
Com muita criatividade, a nossa guia mostra rochas que lembram figuras e até pontos turísticos, como o Pão de Açúcar.
O jogo de luz, sombras e movimentos também mexe com a imaginação, principalmente das crianças que participam da brincadeira.
Durante 1h30 contemplamos o que a natureza é capaz de criar em milhares de anos.
Quando vemos a luz do dia na saída da gruta, é o sinal que chegamos ao fim do passeio.
Mas a trilha continua do lado de fora.
Vamos voltar por um caminho diferente e descobrir novas paisagens.
Dá tempo de experimentar o coquinho do licurizeiro, outra espécie do Semiárido.
Para sentir um pouco mais de como foi esse passeio, clique no vídeo também disponível no nosso canal.
Pratinha e a Gruta Azul
Depois da gruta continuamos a programação em mais uma área privada.
Nessa propriedade, ainda no município de Iraquara, vamos conhecer o rio Pratinha e a Gruta Azul.
Os ingressos são comprados no local e custam R$30, a partir de 10 anos.
O local é estruturado para receber os visitantes que são recepcionados por um funcionário.
Vários passeios são oferecidos, como flutuação, fotos subaquáticas e tirolesa, mas essas atrações que não estão incluídas no valor do ingresso.
O que está incluído é a visita à Gruta Azul, que recebeu esse nome pela cor da água quando os raios do sol batem por volta das três da tarde.
Outra atração incluída no valor da entrada é o banho no rio Pratinha, muito bem vindo para renovar as energias de um dia cheio de atividades.
Morro do Pai Inácio
A última atividade do dia é o pôr do sol no Morro do Pai Inácio, já no município de Palmeiras.
No caminho, continuamos a apreciar as belezas da Chapada.
O ingresso para entrar no parque custa R$6 por pessoa, a partir de 10 anos.
O morro está 600 metros acima do nível do mar e para acessar topo, temos que fazer uma trilha subindo 240 metros.
Tem muitas pedras num caminho com algumas inclinações, mas como muita gente sobe no mesmo horário, a motivação é mútua.
Quando a gente chega lá em cima, a recompensa.
Temos uma vista de 360º das serras da região. A paisagem é realmente de tirar o fôlego.
E com a cor do céu no fim da tarde, o visual fica ainda mais lindo.
Pena que no meio da vista tem um torre de telefonia, que não sei como foi instalada na entrada do parque.
Deixo aqui o nosso protesto contra essa falta de sensibilidade e respeito com uma área protegida.
Mas voltando ao topo do morro, encontramos uma cruz onde os guias relatam a lenda que deu nome à atração.
Conta-se que Inácio teria fugido para esse morro depois que o pai da sua amada proibiu o romance e mandou homens atrás dele.
Para escapar dos perseguidores, ele pulou do alto com um guarda-chuva que ganhou da donzela.
Lá embaixo os homens só encontraram o guarda-chuva, já que Inácio tinha se escondido numa plataforma abaixo de onde pulou.
Enquanto era procurado, Inácio fugiu com sua amada para viverem sua história de amor.
E foi com esse clima romântico que apreciamos o cair da tarde no Morro do Pai Inácio.
Um fim de dia perfeito.
No retorno, todos tem que descer antes de escurecer.
É bom saber também que, dependendo da época do ano, pode ventar bastante lá em cima.
Por isso, leve um casaquinho para as crianças e para os mais friorentos.
Tem mais vídeo da Chapada, dessa vez da Gruta Azul, do Pratinha e do Morro do Pai Inácio.
Dia 3- Descanso no hotel (porque ninguém é de ferro) e passeio em Lençóis
Sim, precisamos dar uma parada para repor as energias (quem tem crianças sabe do que estamos falando).
É bom ter um dia foi de preguiça e para curtir a hospedagem.
Nossa escolha foi o de Hotel de Lençóis, bem no centro da cidade.
O hotel tem uma boa estrutura para crianças, com parquinho e sala de jogos, além da piscina.
Como demos sorte e pegamos dias ensolarados em pleno inverno, também deu pra aproveitar a piscina.
Contam como foi nossa experiência de hospedagem em Lençóis na coluna Onde Ficamos.
Centro Histórico
E como a cidade é pequena, dá ainda para dar uma volta no centro histórico preservado, com casarios do século XIX.
Lençóis é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, e é considerada o portal da Chapada Diamantina.
Um dos pontos de visitação é o Mercado Cultural e a Igreja do Senhor dos Passos, ambos ao lado do rio Lençóis, que corta a cidade.
Na época em que fomos, o rio estava bem seco.
É no centro que você resolve tudo, desde banco, farmácia até compras de última hora.
Também é lá onde tudo acontece e onde se concentram vários restaurantes, cafeterias e lanchonetes.
À noite, as ruas estreitas ficam bem movimentadas com apresentação de artistas e muitas mesinhas do lado de fora dos restaurantes, o que dá um charme especial ao jantar.
Dia 4- Chapada Diamantina com crianças – Cachoeira da Fumaça e Vale do Capão
Esse foi o nosso maior desafio e, com certeza, a maior aventura.
Para fazer esse passeio, temos que sair ainda mais cedo.
E para isso é bom se preparar, estar bem descansado porque a caminhada é longa e vai durar o dia inteiro.
Levar um lanche reforçado é importante, já que o almoço vai ser na trilha.
Resolvemos encomendar um kit com frutas, sucos, sanduíches naturais e sequilhos.
Quem preparou pra gente foi uma moradora de Lençóis que o próprio hotel indicou. Foi providencial, rs.
A Cachoeira da Fumaça fica em Caeté Açu, no município de Palmeiras, a 70 km de Lençóis.
Mas a trilha só começa realmente na Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão.
A associação funciona com voluntários que monitoram os passeios e cuidam da trilha, mantendo tudo limpo e seguro. O trabalho inclui até combate de incêndios.
Antes de fazer o passeio, todos devem se identificar na associação e deixar uma contribuição de qualquer valor para ajudar nas atividades dos voluntários.
Depois é só reforçar o filtro solar e começar a subir.
A trilha
São 420 metros até o topo e a subida inicial é a mais puxada.
Nessa etapa a trilha é inclinada e as pedras são mais escorregadias que as do Morro do Pai Inácio, além do percurso ser bem mais longo.
Mas nada que coloque em risco a vida dos visitantes.
Com calma e paciência, todo mundo consegue chegar, cada um no seu ritmo.
Mais uma vez as crianças nos surpreenderam pela coragem e disposição.
Primeiro mirante
Superada a tal subida inicial, chegamos ao primeiro mirante, hora de apreciar a vista para o Vale do Capão.