O Santo Sudário e o Duomo de Turim, na Itália
O Santo Sudário é a relíquia mais importante do Duomo de Turim.
Segundo a tradição, este é o lençol mencionado nos Evangelhos de Mateus e João que envolveu o corpo de Jesus no túmulo.
O pano funerário usado no sepultamento de Jesus após sua morte na cruz, deixou seu corpo impresso no tecido.
A imagem tem duas linhas pretas chamuscadas e uma série de lacunas: são os danos causados pelo incêndio ocorrido na Capela de Chambéry em 1532, na França, onde o Sudário estava guardado.
As pesquisas sobre a mortalha começaram em 1898, com a primeira fotografia, e continuam, mas muitas coisas já foram provadas cientificamente ao longo dos séculos.
Entre os resultados, os pesquisadores afirmam que a imagem foi produzida através de um processo natural a partir do cadáver de um ser humano, eliminando a possibilidade de ter sido realizada por algum artista.
As marcas vermelhas visíveis no Sudário sempre foram consideradas manchas de sangue.
E dois grupos de estudiosos italianos e americanos confirmaram se tratar de sangue humano do tipo AB+.
Nesse post, saiba mais sobre e como ver essa maravilhosa relíquia venerada pelos cristãos, exposta gratuitamente na bela Catedral da cidade de Turim.
O Santo Sudário e o Duomo de Turim: a mortalha de Cristo
O Sudário é um lençol de linho com 4,41 metros de comprimento e 1,13 metros de largura.
A trama do tecido tem um padrão de espinha de peixe feito à maneira do Egito antigo, antes de Cristo.
O pano funerário preserva até hoje uma imagem dupla, na frente e no verso, de um corpo humano torturado, com feridas visíveis no pulso esquerdo, nos pés e no lado direito do peito.
A pessoa que deixou esta marca tem mais de 1,70 metros de altura.
As marcas impressas no pano funerário são de quatro tipos:
1. Sinais de carbonização do tecido, com duas linhas escuras paralelas longitudinalmente;
2. Marcas da água usada para apagar o incêndio de 1532 na capela francesa onde o tecido estava guardado antes de ir para a Itália;
3. Imagem em claro-escuro de uma figura humana, com a impressão frontal e dorsal do cadáver de um homem, de forma mais intensa nas partes salientes da figura, como a testa, nariz, queixo e peito;
4. E resíduos de sangue em pontos particulares como testa, nuca, pulso esquerdo e pés.
Nessas áreas, a forma e a cor das manchas são diferentes das do resto do corpo, tendendo ao carmim.
A primeira fotografia autorizada do Santo Sudário ocorreu em 1898.
O advogado Secondo Pia, que fez a foto, viu formar-se sobre o negativo fotográfico a figura positiva do rosto de um homem, como vemos na realidade.
O Santo Sudário e o Duomo de Turim: a história da relíquia e seu percurso até a Itália
O primeiro documento sobre o Santo Sudário é o Evangelho que relata o sepultamento de Jesus.
Segundo o relato, José de Arimateia depositou o corpo de Jesus no túmulo depois de envolvê-lo em uma “síndona“.
Depois disso não se sabe com certeza o que aconteceu, mas o tecido foi cuidadosamente preservado e venerado pelos cristãos.
Segundo uma lenda, em 544 o Sudário foi enviado a Abgar, Rei de Edessa (atual Sanli-Urfa, Turquia), pelo próprio Jesus.
Naquela época, o tecido ficava dobrado em oito partes de modo a mostrar ao público apenas o rosto.
No século X, a mortalha chamada de Mandylion, foi transferida para Constantinopla, a capital do Império Bizantino, que era a maior e mais rica cidade da Europa e do Oriente Médio.
Em 1204, os Cruzados levaram todos os objetos de valor de Constantinopla e provavelmente também pegaram o Sudário.
Depois de Constantinopla
Acredita-se que o Sudário tenha sido roubado por um francês porque uma carta de um aristocrata em 1205 informa que a relíquia, anteriormente apreendida pelos franceses, estava Atenas.
Um século depois, por volta de 1355, o cavaleiro francês Geoffroy de Charny construiu uma igreja na cidade Lirey, na França, para preservar e expor o Sudário aos fiéis.
Ele provavelmente conseguiu o Santo Sudário através de sua segunda esposa, cujo ancestral participou da Quarta Cruzada.
A primeira confirmação da existência de peregrinações ao Sudário na Europa vem através de um medalhão de bronze, encontrado no leito do rio Sena em meados do século XIX.
O medalhão reproduz a dupla impressão do Sudário, o tecido e o brasão da família Charny e é provável que tenha pertencido a um peregrino.
Em 1418, devido à Guerra dos Cem Anos, Marguerite de Charny retirou a relíquia da Igreja de Lirey e levou o tecido nas suas viagens pela Europa.
Os duques de Savoia, que estavam ligados tanto ao seu pai quanto ao seu falecido segundo marido, Umbert de La Roche, receberam Marguerite.
Finalmente em 1453 ocorreu a transferência do Sudário ao duque Ludovico de Savoia, que guardou o tecido em Chambéry, também na França.
Culto litúrgico ao Santo Sudário
Em 1506, o Papa Júlio I concedeu o culto litúrgico e público ao Santo Sudário.
Mas em 4 de dezembro de 1532, a Capela de Chambéry sofreu um incêndio e uma gota de metal fundido atingiu a relíquia.
Dois anos depois, as Irmãs Clarissas de Chambéry colocaram remendos triangulares nas partes danificadas.
Foi em 1578 que Emanuel Filiberto de Savoia transferiu a relíquia para Turim, mas só em 1694 o Santo Sudário foi levado para a Capela construída de acordo com o projeto de Guarino Guarini, hoje acessível pelo Museu Real.
Os Savoias foram os proprietários da relíquia até 1983, quando o último rei da Itália, Humberto II, doou o tecido ao Papa.
Em 1997, um incêndio destruiu a Capela do Sudário, mas os bombeiros de Turim conseguiram salvar a relíquia sem danos.
Em 1988 começaram as pesquisas de datação do tecido.
A exposição do Sudário mais recente ocorreu de 19 de abril a 24 de junho de 2015, por ocasião dos 200 anos do nascimento de São João Bosco, com a presença do Papa Francisco.
O Duomo de Turim
No atual local da Catedral renascentista existiam três igrejas construídas no século IV e dedicadas a Cristo Salvador (San Salvatore), a São João Batista e à Virgem Maria (Santa Maria de Dompno).
Os vestígios arqueológicos dessas construções estão preservados no museu diocesano da Catedral.
A construção da igreja atual é dos últimos anos do século XV, entre 1491 e 1498.
A fachada é em mármore branco e tem três portais decorados com relevos.
Há um brasão esculpido em mármore acima da porta central.
Ele representa um carvalho, um chapéu de cardeal e uma cruz.
Acima dos portais aparece o nome do bispo comissário, que era cardeal de São Clemente, em Roma .
As decorações renascentistas representam as figuras de Deus Pai, de Cristo, de anjos músicos e de São João Batista.
O Campanário
A construção do campanário (ou torre sineira) ocorreu entre 1468 e 1470 fora da Catedral.
Porém o projeto só ficou parcialmente pronto entre 1720 e 1723.
No século XVIII o arquiteto Filippo Juvarra desenhou um novo elemento de coroamento para a estrutura simples do século XV.
A torre sineira de tijolo vermelho também é chamada de Sant’Andrea.
O Duomo por dentro
Logo ao entrar, vemos na contrafachada, acima da porta principal, uma das cópias existentes mais importantes da Última Ceia de Leonardo da Vinci, doada em 1835 pelo rei Carlos Alberto.
A obra é de 1827 e de autoria do pintor Vercelli Francesco Gagna.
Algumas esculturas renascentistas decoram o portal de entrada.
Do lado direito vemos o mausoléu da Condessa Joana de Orlier, do século XV.
Do lado esquerdo, os restos do sepulcro da família Romagnano, representando o bispo Amedeo e seu pai, o conde Antonio.
Há ainda a pintura de 1604 de Antonio Parentani, representando a Glória de Maria com anjos, arcanjos e anjo da guarda.
Os visitantes também conseguem ver de perto uma relíquia de São João Batista, Patrono da cidade de Turim.
A igreja tem planta em cruz latina, com uma grande nave central e pilares em pedra de Susa.
Capelas
As duas naves tem um total de treze capelas, seis na nave direita e sete na nave esquerda.
Entre as capelas estão a da Ressurreição, de São Miguel Arcanjo e de São Lucas.
A segunda capela do lado direito, dedicada aos santos Crispim e Crispiniano, tem grande valor artístico e obras do pintor Defendente Ferrari.
A primeira do lado esquerdo abriga o batistério.
A capela da Trindade (terceira na nave esquerda) abriga os restos mortais de Pier Giorgio Frassati (1901-1925), o jovem turinense proclamado beato por João Paulo II em 1990.
O altar do crucifixo é uma obra do século XVIII dos irmãos Ignazio e Filippo Collino, já o crucifixo de madeira é de Francesco Borello.
As duas estátuas de mármore de Santa Cristina e Santa Teresa tem grande efeito tridimensional e foram esculpidas em Roma em 1715 pelo artista parisiense Pierre Legros.
A capela preserva o Sacramento da Eucaristia e tem a escultura dourada de uma orquestra de 1714.
Os organistas piemonteses Vegezzi-Bossi construíram o atual órgão de tubos em 1874, um dos maiores de Turim.
Capela de Nossa Senhora das Neves
A Capela de Nossa Senhora das Neves, também é nomeada de Nossa Senhora Grande ou da Santíssima Virgem Paroquial, em memória da primitiva igreja de Santa Maria del Dompno, de onde vem a estátua de terracota pintada do século XV.
As estátuas laterais da capela dos Santos Joaquim e Ana, de Giovanni Tamone, são de 1863.
A devoção a este símbolo mariano está entre as mais fortes em Turim.
Durante o século XVII houve a demolição da parte final do coro para a inserção de uma capela circular destinada ao Sudário.
Guarino Guarini realizou a obra, que ficou pronta em 1690.
Ele incluiu uma belíssima cúpula na então capela do Sudário.
Porém, na noite de 11 de abril de 1997, um incêndio danificou a cúpula do Guarini.
A boa notícia é que o Sudário não estava na capela, mas num estojo especial atrás do altar-mor da Sé, e não sofreu danos.
A igreja também abriga o Museu Diocesano de Arte Sacra.
Altar-mor
A construção do antigo altar ocorreu no início do século XVIII.
Acima do altar está a antiga Capela do Sudário, que faz parte do Palácio Real de Turim.
O presbitério abriga o púlpito, o altar e a cadeira episcopal de bronze de 2004.
O Santo Sudário e o Duomo de Turim: a tribuna real e a Sindone
O Santo Sudário fica na última capela da nave esquerda, sob a monumental Tribuna Real, construída em 1583 por Carlo Emanuele I.
O local era frequentado pelos reis do Piemonte e da Sardenha e suas família.
A relíquia católica está preservada em uma urna de alumínio e uma parede de vidro.
É verdade que não dá pra ver o Sudário, mas é possível fazer orações e contemplar a proximidade com algo tão sublime e sagrado para os cristãos.
Além disso, os fiéis encontram uma oração específica para esse momento em várias línguas.
A sensação de estar ali, diante da mortalha de Jesus Cristo, é algo indescritível.
Ao longo da Catedral, telões exibem vídeos que explicam as características e a história do Sudário, com tradução das legendas para alguns idiomas.
É possível ver o Sudário durante exposições públicas, mas por enquanto não existe nenhuma data prevista.
Porém em maio de 2025, vai ocorrer uma “peregrinação virtual” ao Sudário para o mundo inteiro.
Vamos aguardar.
Museu do Sudário
O Museu do Sudário de Turim reúne as informações sobre os estudos do linho sagrado desde o século XVI até os dias de hoje, com seus aspectos históricos, científicos, devocionais e artísticos.
Há uma ala que ilustra a evolução da investigação científica que começou há mais de um século, em 1898.
O destaque é a imagem tridimensional do rosto do Homem do Sudário, criada em 1978.
Um espaço reúne estudos posteriores sobre o tecido, sobre microvestígios de pólen, sangue, babosa, mirra, além de depoimentos sobre investigações médicas e análises iconográficas.
Outra parte do museu traça a história do Sudário e de sua veneração a partir da segunda metade do século XV, quando passou a ser propriedade da Casa de Savoia.
Neste trecho há a caixa utilizada para o transporte definitivo do Sudário para Turim em 1578 .
A joia do museu é a caixa de prata e pedra semipreciosa do século XVI que preservou o Sudário desde o final do século XVI até 11 de abril de 1997, dia do incêndio na capela Guarini da Catedral de Turim.
Também há uma série de fotografias oficiais do Sudário, inclusive as primeiras fotografias de Secondo Pia de 1898; as de Giuseppe Enrie em 1931; a primeira imagem a cores de Giovanni Battista Judica Cordiglia, em 1968; fotografias científicas de 1978, de 1997, 2000 e 2002 e as fotografias digitais de alta definição de 2008.
Os visitantes também podem ver um vídeo em cinco línguas com uma análise da imagem do Sudário.
Serviço
A Catedral de Turim abre todos os dias das 9h às 12h30 e das 15h às 19h.
A Catedral fica no centro histórico, perto da Piazza Castello e adjacente ao complexo monumental do Palácio Real e Museu de Turim.
Para ver o Santo Sudário e o Duomo de Turim não precisa pagar nada.
O Museu da Sindone fica na Via San Domenico 28, a cerca de dez minutos a pé da Catedral.
O horário de funcionamento é das 9h às 12h e das 15h às 19h, todos os dias.
O ingresso custa € 8, o preço integral e € 6, o preço reduzido.
Essa viagem foi realizada com a assessoria da Atlas Turismo.
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