Trilhas no Parque Nacional Serra da Capivara com crianças
Roteiro de dois dias de visitação ao parque, no sertão do Piauí
Na nossa viagem para a região da Serra da Capivara, reservamos dois dias para fazer trilhas com as crianças e conhecer esse que é o primeiro parque nacional criado na Caatinga e que reúne mais de 1.300 sítios arqueológicos pré-históricos registrados numa das maiores concentrações das Américas.
Desde a criação do parque há 40 anos (completados em 2019), 204 sítios foram preparados para visitação, mais de 900 deles com arte rupestre.
Com tantas atrações assim, dois dias parece pouco tempo para uma área de 130 mil hectares, com perímetro de 214 km.
Mas sabia que deu pra conhecer muita coisa em duas das quatro serras que compõem o parque, localizado no Semiárido piauiense? Sim!
Fizemos trilhas leves e rápidas, sem falar que o carro chega bem perto das principais atrações.
Nos surpreendemos com a estrutura do parque, que tem boas estradas, estacionamento e acesso para cadeirantes em 17 trilhas.
Além disso, tudo é muito preservado e limpo e os acessos são bem sinalizados.
A entrada no parque é gratuita, mas é necessário ter um guia, que cobra uma diária de R$ 160 para grupos de até oito pessoas.

Vista panorâmica das Mangueiras
O roteiro para o blog foi preparado pela Agência Trilhas da Capivara e a nossa guia nos dois dias foi Eliete Silva.
Confira logo a primeira parte do nosso passeio nesse vídeo, que também está disponível no nosso canal no Youtube.
Nesse post detalhamos a nossa programação, com direito a vídeo de cada trilha.

Sítio do Meio
Trilhas no Parque Nacional Serra da Capivara com crianças – Primeiro dia, manhã
Começamos nosso passeio no Mirante da 020, que fica na BR 020.
Com uma vista da cidade de Coronel José Dias, nossa guia nos apresentou as principais informações sobre o parque, que é formado por quatro serras em quatro municípios.
É nesse mesmo ponto da BR que fica um paredão onde é possível ver o encontro de duas estruturas geológicas.
Para os cientistas e curiosos, essa é uma atração rara de encontrar de forma assim tão visível. Podemos ver de forma clara o que a natureza levou milhares de anos para construir. Os geólogos piram!
Pegamos o carro para entrar na área do parque, que é formado pelas serras da Capivara, Talhada, Branca e Vermelha.
Como dissemos no começo desse post, só visitamos duas delas, a da Capivara e a Talhada, onde ficam as atrações principais.
Nesse roteiro, a primeira visita ao parque foi pela Serra da Capivara, no Desfiladeiro da Capivara.
Como já dissemos, o acesso ao parque é gratuito, mas o guia é obrigatório.

Serra da Capivara
Em cada guarita, precisamos nos identificar e preencher um formulário.
O espaço é cuidado apenas por mulheres e também funciona como lojinha de artesanato, lembrancinhas e alguns itens de conveniência.
A vegetação do parque é a Caatinga arbórea, verdadeiras florestas com árvores de até 30 metros de altura.
Uma das muitas espécies da flora da região é a Maniçoba, que além de produzir látex, também tem uma semente comestível, um tipo de coquinho.
O Desfiladeiro da Capivara é um caminho entre a Caatinga e paredões imponentes.
Vários são os sítios arqueológicos nesse percurso dentro do parque, além das paisagens e das trilhas para contemplação da natureza.
Logo na primeira parada encontramos alguns dos moradores do parque.
Protegidos pela reserva, os mocós, roedores nativos da Caatinga, estão por todos os lados.
Há alguns minutos dali estão as Tocas do Pajaú e da entrada do Pajaú, onde vimos pela primeira vez sítios arqueológicos com pinturas rupestres.
Nessas atrações, a guia nos explicou como esses registros foram datados e como são classificados, com o estilo e localização de cada tipo de pintura.
Os pesquisadores fazem um trabalho minucioso e discreto para preservar as pinturas da ação do tempo e de moradores do parque, como os mocós, que vivem nos buracos das rochas.
Veja o vídeo dessas atrações no Desfiladeiro da Capivara.
Seguindo pela trilha do Desfiladeiro da Capivara, chegamos ao Inferno, cruzes!!!
O nome dá medo e vem da crença de que o lugar seria mal assombrado, mas ainda bem que não vimos nada de sobrenatural por lá, rs.
Ao contrário, a fenda dentro da rocha é linda, com uma luz e temperatura que deixam o lugar ainda mais bonito.

Desfiladeiro da Capivara
Também visitamos a Toca do Barro e a Toca da Entrada do Baixão da Vaca, com mais pinturas rupestres.
Na Toca do Barro, encontramos pinturas até em pequenas pedras arredondadas, parecendo seixos, um tipo de pintura que ainda não tínhamos visto.
Já no Baixão da Vaca, as pinturas revelam uma grande variedade de animais e cenas que lembram rituais e até um parto.
Para chegar na maioria dos sítios do desfiladeiro, temos que subir degraus preparados nas próprias rochas.
Mas o acesso é fácil e seguro, quase sem esforço.
De cima, o visual é maravilhoso!
No parque também há espaços para os visitantes fazerem pequenas refeições, com várias mesas.
Há ainda a preocupação em manter os animais dentro do parque.
Vimos vários reservatórios de água construídos para garantir que eles não precisem ir pra longe.
Dá o play pra ver mais dessas atrações.
Trilhas no Parque Nacional Serra da Capivara com crianças – Primeiro dia, tarde
Depois da parada pra o almoço na pousada em que nos hospedamos pertinho do parque, voltamos ao nosso roteiro, dessa vez na Serra Talhada.
A trilha é pelo Circuito Sítio do Meio, mais um sítio arqueológico com gravuras e pinturas rupestres.
Para chegar ao local, passamos por algumas estruturas que os arqueólogos construíram.
Como em muitas áreas no parque, o trabalho dos pesquisadores continua. É no sítio do meio que as escavações podem revelar as gravuras mais antigas já descobertas na região.
Nesse sítio também foi preservado um antigo forno usado por moradores de uma época mais recente.
Mas enquanto a gente espera as novas descobertas, apreciamos a arte deixada pelas populações pré-históricas que passaram por aqui.
Olha o vídeo do Sítio do Meio.
Chegamos ao fim do nosso primeiro dia de trilhas pelo Parque Nacional Serra da Capivara na Trilha do Boqueirão do Pedro Rodrigues.
E pra fechar o dia, fomos conhecer algumas vistas panorâmicas do parque.
De um lado, podemos apreciar a floresta de Caatinga do alto e os paredões da Serra Talhada.
Do outro, o Museu da Natureza, que está bem perto dali.
Na trilha, mais descobertas.
Esse seixo bem fininho é mais um sinal de que rios passaram por aqui, desgastando as pedras.
Continuamos na trilha para mais uma surpresa.
Em outro trecho, temos a vista da parte de trás da famosa Pedra Furada, cartão-postal mais conhecido da Serra da Capivara.
Atenção para um desafio: tente achar a Pedra Furada entre as rochas.
Achou? Agora imagine a tranquilidade dos sons da natureza, respire fundo e relaxe, como nós.
Na volta, passamos pela Toca do Boqueirão do Pedro Rodrigues, com gravuras e pinturas rupestres.
Como em toda trilha, vale ficar atento a tudo que a natureza nos revela.
Olha a “formiguinha” toda faceira no caminho e a lagartixa da serra, com seu lindo colorido.
Contemple mais da Serra Talhada nas imagens.
Trilhas no Parque Nacional Serra da Capivara com crianças – Segundo dia, manhã
O segundo dia de trilhas na Serra da Capivara começou numa atração fora do parque nacional.
Fomos conhecer a Toca de cima “dos Pilão”, uma caverna que foi soterrada e depois descoberta pelos arqueólogos.
É uma aventura passar por trechos estreitos e dar de cara com estalactites.
Essa toca é importante porque foi nela onde foram encontrados as presas de um tigre dente-de-sabre e os ossos de uma preguiça gigante.
Tudo que foi descoberto está exposto no Museu da Natureza, na mostra sobre a megafauna.
No espaço também temos uma vista panorâmica da Serra Talhada, uma das quatro serras que formam o Parque Nacional Serra da Capivara.
Acompanhe mais um vídeo.
Voltamos a área do parque na Trilha Hombu, que na língua indígena Jê quer dizer “venha ver, venha comigo”.
No caminho, encontramos mais moradores do parque: um veado caatingueiro e um tatu-peba.
Temos que ficar bem quietinhos no carro para não atrapalhar o passeio deles.
Nessa trilha visitamos ruínas da época dos Maniçobeiros, que trabalhavam extraindo borracha da maniçoba, uma planta nativa da Caatinga.
O passeio é pelas ruínas da Casa do Neco Coelho, uma moradia “de luxo” para a época, espaçosa e com piso de ladrilho.

Casa do Neco Coelho
Aqui os pesquisadores encontraram vários objetos, como louças, utilitários e moedas.
Já na sede da fazenda Jurubeba, mais modesta, a casa é pequena e as paredes ainda estão preservadas.
Nas placas informativas, descobrimos que os moradores, que também trabalhavam com cana-de-açúcar, acabaram deixando o local por causa de um ataque de abelhas.
O passeio continua na Toca do Macaco, Toca da Roça do Sítio do Brás I e II e na Toca do Exú.
Abrigos naturais, essas tocas serviram de moradia para os maniçobeiros e comunidades pré-históricas, que tiveram suas pinturas rupestres e gravuras quase destruídas pelos fornos construídos muitos anos depois.