Santuário do Bom Jesus de Congonhas, obra-prima do barroco mundial
A visita ao Santuário do Bom Jesus de Congonhas ou do Bom Jesus de Matozinhos, não deve ficar de fora do seu roteiro em Minas Gerais.
O espaço é considerado o maior conjunto de arte colonial do país e impressiona pelo trabalho inconfundível de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
A construção do Santuário começou na segunda metade do século XVIII e a obra é composta por uma igreja, 12 esculturas dos profetas bíblicos e seis capelas marcando os sete passos da Paixão de Cristo.
Nesse post contamos a nossa experiência de visita guiada a essa obra-prima do barroco mundial.
Também tem três vídeos sobre o passeio disponíveis no nosso canal no Youtube.
Confira todos a partir da primeira parte abaixo.
Dá o play, curte o vídeo e se inscreve no canal.
Santuário do Bom Jesus de Congonhas: os Passos da Paixão de Cristo
Comece a visita pelas capelas dos Passos da Paixão.
De baixo para cima vamos descobrindo a história e as curiosidades de cada uma.
As seis capelas em frente à Basílica representam as Estações da Cruz e estão dispostas em zigue-zague.
Cada uma abriga esculturas de cedro em tamanho natural, esculpidas por Aleijadinho e colorizadas pelo Mestre Ataíde.
O conjunto compõe um dos mais completos grupos escultóricos de imagens sacras no mundo, além de ser uma obra-prima da arte barroca.
As estátuas foram feitas num período contínuo, entre 1796 a 1799.
Mas só as três primeiras capelas foram construídas simultaneamente com as esculturas.
As três últimas só foram concluídas na segunda metade do século XIX, quase 70 anos após o início das obras.
A demora para a conclusão teria sido em razão do fim dos recursos financeiros neste que foi o maior canteiro de obras do século XVIII.
Capela 1
Enquanto ceavam, Jesus tomou o pão e disse: “esse é o meu corpo, que é dado por vós”.
O trecho bíblico acima da entrada da primeira capela apresenta a retratação da Santa Ceia, que não faz parte da Via Sacra, mas entrou no conjunto de Congonhas.
Em todas as capelas a visita é feita através da porta, por isso encontramos algumas curiosidades na elaboração e disposição das esculturas no ambiente.
Um exemplo é que todas as imagens após a mesa não tem pernas nem costas, já que a cena só vai ser vista de frente.
É como se fosse uma pintura em 3D .
Só as esculturas das pontas da direita e esquerda tem o corpo completo, como os serviçais.
Outra curiosidade é a mesa redonda, com um leitão no meio, que é a base da culinária mineira.
Isso se deve ao regionalismo do barroco mineiro, que faz uma releitura das escrituras para facilitar o entendimento das pessoas do lugar.
A cena mostra Jesus com o pão na mão, enquanto Pedro questiona.
Judas, dissimulado, está cabisbaixo. Ele segura um saco, onde conseguimos perceber o volume das moedas.
É o único que está sentado num banco trabalhado. Os outros apóstolos sentam em bancos simples, representando sua humildade.
São Tomé olha pra Judas, relembrando a passagem: “ver para crer”.
Capela 2
Tendo caído em agonia, vieram orar com distância.
Nesta estação vemos a cena no Jardim das Oliveiras.
Esta é a capela com menos estátuas, são apenas cinco.
A escultura do Arcanjo também é em tamanho real.
Na representação estão ainda Jesus, João, Tiago e Pedro, lembrando a passagem: orai e vigiai.
Essa é mais uma característica da arte barroca, que é cênica.
Os trabalhos tem movimento, lembram uma encenação de teatro.
Apesar da obras não estarem assinadas, pois foram feitas sob encomenda, alguns elementos são a marca de Aleijadinho.
Os olhos das imagens são amendoados e os rostos tem traços afilados, como o nariz.
O bigode saindo das narinas e a barba de trás da orelha, são parte do estilo do artista.
Capela 3
Com espadas e vara-paus, vieram prender-me como se fosse ladrão.
Na cena, Judas beijou Jesus e se afastou, ele aparece atrás do Cristo.
O soldado ajoelhado está sangrando, após a reação de Pedro, que tem uma espada.
Jesus segura a orelha do soldado, pouco antes de curá-lo.
É a representação da passagem: “Pedro, quem com ferro fere, com o ferro será ferido”.
O fardamento das estátuas com botões nas roupas, cintos e botas (exceto Pedro e Jesus), representa o uniforme dos soldados da coroa portuguesa.
As expressões caricatas dos soldados lembram máscaras, com o volume do rosto maior que o pescoço.
É uma crítica velada do artista aos seus inimigos de Portugal.
Capela 4
Eis aqui o homem! A decisão foi do povo e não minha, eu lavo as minhas mãos.
Nesta capela vemos um amontoado de esculturas que representam duas cenas.
Jesus é açoitado na encenação do lado esquerdo.
O pescoço da imagem marcado com sangue, pode ter disso um protesto pelo enforcamento de Tiradentes.
Do lado direito, Jesus recebe a coroa de espinhos.
A pernas da escultura parecem ter fraturas expostas.
Um soldado segura uma flâmula com a escritura: “Jesus de Nazaré, rei dos Judeus”.
De joelhos, Pôncio Pilatos olha para Jesus.
Capela 5
Toma sob si a cruz.
A cena mostra Jesus carregando a cruz.
Duas mulheres o acompanham, são as piedosas.
Verônica, com o lenço e Marta, ao fundo, carrega um bebê com cabeça de adulto, que seria a figura de Dom João IV.
Na frente de Jesus, um bobo da corte tem um prego na mão.
As roupas dele lembram o estilo do século 18 da corte portuguesa, em mais uma crítica do artista.
Nesta capela temos mais uma curiosidade.
Os olhos da imagem de Jesus são de vidro e vieram da Europa.
É uma exceção no material utilizado pelo artista.
É também o único Cristo que Aleijadinho faz com os olhos escuros.
Os olhos da imagem são sutilmente estrábicos, o que seria uma referência ao globo ocular do artista, comprometido pela paralisia facial.
A boca aberta de Jesus representa asfixia e o pescoço também aparece com marcas de sangue.
A imagem está vestida, um truque para cobrir o corpo porque o fundo é uma tábua e não tem acabamento.
Capela 6
No monte calvário, ele e mais dois foram crucificados.
Na capela da crucificação, acompanhamos o calvário de Jesus.
A cena mostra o Cristo deitado na cruz.
A direita estão os dois ladrões, com expressões diferentes de arrependimento ou não.
A imagem de Maria Madalena de joelhos, representa a pecadora e a convertida numa só escultura.
A estátua está claramente dividida.
Um dos lados parece um homem, olhando para o alto, pedindo perdão ao Pai através do filho.
Dois soltados à esquerda disputam o manto sagrado.
Um deles segura um dado para tirar a sorte.
De pé, também no lado esquerdo, vemos um centurião, sem a caricatura da máscara dos soldados.
O fardamento de uma autoridade superior, o formato dos dedos da mão esquerda e o sabre na mão direita lembram rituais da Maçonaria.
A escultura representa o grão mestre da loja.
Como Aleijadinho era Maçom, sua obra está repleta com simbolismos e referências à Maçonaria.
Santuário do Bom Jesus de Congonhas: Profetas
O percurso das capelas termina em frente à Basílica.
A escadaria monumental da igreja, o adro, é decorada com o conjunto escultórico dos 12 profetas do Velho Testamento: Amós, Abdias, Jonas, Baruque, Isaías, Daniel, Jeremias, Oseias, Ezequiel, Joel, Habacuque e Naum.
Antônio Francisco Lisboa esculpiu as peças em tamanho real em pedra sabão.
Elas representam a expressão máxima do barroco mineiro.
Cada uma tem uma base de aproximadamente 20 centímetros, o que contribui para a apresentação do conjunto.
Olhando de frente da escadaria, nenhuma estátua se sobrepõe a outra.
No portão de entrada, dois profetas recebem os visitante no nível inferior.
É a abertura da obra de Aleijadinho.
No nível intermediário, estão mais dois profetas.
No nível superior, os outros 8.
Os três níveis do adro favorecem a visão unânime dos 12.
A intenção dessa simetria barroca é não interferir na distribuição das obras.
E toda a harmonia do conjunto seria comprometida se as esculturas fossem trocadas de lugar.
Dualidade barroca
Começamos a observar os profetas pelo da ponta esquerda do adro, Abdias.
A escultura está com o braço direito erguido, apontando pra cima , como o dedo indicador voltado para o norte.
Atrás de Abdias está a imagem de Jonas com o peixe aos pés, olhando pra cima, na direção do nascente, seguindo a trajetória do sol.
Do lado oposto está a estátua de Habacuque, com o braço esquerdo erguido e o polegar apontando para o sul.
Por trás está a escultura de Joel, olhando para o poente.
As peças representam os quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste.
É uma mostra da dualidade barroca, que expressa o sentido da vida pelo positivo e o negativo, o feio e o bonito, a luz e a sombra.
Messiânicos e apocalípticos
As imagens se dividem em profetas do Apocalipse e os messiânicos.
Os seis da esquerda demonstram jovialidade, serenidade no rosto, jovialidade e são todos altivos.
São os messiânicos, que falam da vinda do Messias.
Na ordem a partir do portão de abertura, vemos Isaías, o mais messiânico dos profetas.
Em seguida está Baruque, que está sorrindo e parece estar olhando para nós.
Autorretrato
Depois vem Daniel na cova dos leões, Jonas engolido pelo peixe, Abdias e Amós, que é o autorretrato do Antônio Francisco Lisboa.
A curiosidade é que existem poucas referências da imagem do artista.
Essa escultura e uma pintura exposta na igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, estão entre as poucas conhecidas.
Os seis profetas da direita tem expressões sisudas, pesadas, estão cabisbaixos e demonstram seriedade.
Sãos os profetas apocalípticos, que falam de guerras e destruições.
A estátua da esquerda no portão de entrada representa as lamentações de Jeremias.
A escultura de Ezequiel está acima, como se estivesse dialogando com Daniel.
A seguir estão Oséias, Joel, Habacuque e Naum.
As esculturas foram feitas entre 1800 e 1805.
Aleijadinho gastou mais tempo para fazer os 12 profetas em pedra do que as 64 esculturas da capela em madeira.
Foram 3 anos e 5 meses trabalhando nas capelas e mais 5 anos com os profetas.
Em menos de 9 anos, o artista realizou uma das suas maiores obras-primas.
Basílica do Bom Jesus de Matozinhos
O ano oficial do início da construção da Basílica é 1757.
Apesar da imponência de sua fachada, por dentro a igreja é pequena.
A decoração do interior é em estilo rococó, de inspiração italiana.
Os altares são folheados a ouro, com adornos entalhados.
Cerca de 40 quadros individuais compõem todo o corpo do Santuário.
São pinturas na madeira, também folheadas a ouro.
A igreja possui ainda uma coleção de 89 ex-votos ou milagres pintados, dos séculos XVIII ao XX.
As obras tem cores primárias fortes, sobre madeira de cedro cortada em forma retangular.
No teto capela-mor, há duas passagens do Velho Testamento com cabeças decepadas.
A cabeça maior é a de Golias, com um ferimento na testa, derrotado por Davi.
A outra cabeça é a de João Batista e está numa bandeja de prata.
As pinturas são de autoria de Bernardo Pires da Silva.
A pintura do teto da nave é de João Nepomuceno Correia e Castro e foi retocada posteriormente pelo Mestre Ataíde.
Último Passo
O crucifixo do altar representa o último passo da Paixão de Cristo, finalizando o conjunto das seis capelas.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou a imagem do Senhor Morto do altar em 2004.
Outra preciosidade logo na entrada da Basílica é uma série de três quadros sobre a vida de Maria, à direita de quem entra.
No primeiro, vemos o encontro de Maria e Isabel, que curiosamente está bem jovem.
O segundo é o casamento de Maria e José, com a benção das alianças.
O terceiro mostra o nascimento de Maria.
Nossa Senhora está no berço, com a presença dos pais, Sant’Ana e São Joaquim.
Essa imagem é uma raridade porque historicamente, essa leitura não existe em outra parte do planeta.
As pinturas também são de João Nepomuceno Correia e Castro, artista natural de Mariana.
Santuário do Bom Jesus de Congonhas: visita ilustre do The Cure
É verdade!
A banda britânica The Cure também foi conhecer o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos.
A visita foi em 1987, quando o grupo liderado pelo vocalista Robert Smith esteve em Belo Horizonte para fazer um show.
O passeio rendeu fotos icônicas e nós, fãs que somos da banda, brincamos de reproduzir o ensaio.
E aí, ficou parecido? Rs.
Artesãos
Ao lado do Santuário, os turistas podem encontrar vários tipos de artesanato para levar para casa.
As peças produzidas por artesãos da região tem a cara de Minas.
Serviço:
O Santuário do Bom Jesus de Congonhas ou de Matozinhos fica na Praça da Basílica, no Centro de Congonhas.
A Basílica fecha às segundas.
De terças a domingos e feriados, o horário de funcionamento é das 7h às 18h.
Nosso guia foi o senhor Marcelo Pedro, que sabe tudo sobre o Santuário, a vida e obra de Aleijadinho e a História mineira.
Para contratá-lo é só entrar em contato pelo Whatsapp 31 99679-8466.
A visita guiada dura de 1h30 a 2h e custa R$ 150* para famílias de até quatro pessoas.
Para grupos, o preço é a combinar.
*Valor de Junho de 2023.
Acompanhe mais roteiros em Minas Gerais aqui no blog.
Viagem realizada com a assessoria da Atlas Turismo.
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Salve essa dica de passeio no Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, Minas Gerais. Clique no pin.