Santuário do Caraça: patrimônio histórico, ambiental e cultural em Minas Gerais
O Santuário do Caraça é um espaço secular em Minas Gerais que reúne no mesmo lugar ecoturismo, turismo religioso, história, gastronomia e hospedagem.
Criado originalmente há 200 anos como um centro de peregrinação, por 148 anos foi um Colégio e Seminário que formaram até futuros presidentes.
Hoje o Santuário é uma reserva ambiental de Mata Atlântica com uma área de 11.233 hectares numa região belíssima entre os municípios de Santa Bárbara e Catas Altas.
O Patrimônio natural do Caraça responde por quase 51% das reservas particulares do Estado e é uma das mais importantes e visitadas unidades de conservação de Minas Gerais.
A reserva é ainda Patrimônio Cultural do Brasil, com tombamentos em nível federal, estadual e municipal.
Listado como uma das 7 maravilhas da Estrada Real, o Santuário está a 120 km de Belo Horizonte.
Entre as principais atrações estão as cachoeiras, relíquias cristãs, a flora e a fauna do lugar, com pássaros, antas e o lobo guará, que circulam pela reserva.
A beleza da região atraiu visitantes ilustres.
Dom Pedro I esteve durante dois dias no local nos tempos do colégio.
Dom Pedro II se hospedou no Caraça e revelou: “Só o Caraça paga toda viagem a Minas”.
O relato de sua esposa, Dona Tereza Cristina, na manhã do dia 13 de abril de 1881, também ficou registrado.
A Imperatriz disse que “teria escrúpulos de vir a Minas e não chegar até ao Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Hei de voltar, Padre Superior”.
Assim como Dom Pedro I e Dom Pedro II, é possível viver a experiência de se hospedar no Santuário do Caraça ou visitar a reserva em sistema de day use.
A gente se hospedou alguns dias no Santuário e compartilha agora nossa experiência e todas as informações sobre esse belo destino mineiro.
Também tem vídeo sobre o Santuário do Caraça disponível no nosso canal no Youtube.
Dá o play, curte o vídeo e se inscreve no canal.
Santuário do Caraça: história
Há registros do Caraça em 1708, quando aparece em um mapa da Província de Minas.
Em outro documento histórico de 1716, aparece o Arraial do Caraça.
Também há vestígios de antigos garimpos, provavelmente do século XVIII, na região do Tanque Grande e dos Pinheiros.
Em tupi-guarani, o nome caraça significa desfiladeiro ou bocaina, uma grande depressão situada numa serra.
Esse seria o nome do grande desfiladeiro existente na Serra do Espinhaço nesta região.
Outra hipótese é que o nome Caraça seria inspirado no formato de um rosto humano na Serra do Espinhaço, tem até uma trilha para ver melhor essa formação.
Centro de fé e peregrinação
O Irmão português Lourenço de Nossa Senhora fundou o Santuário do Caraça em 1774 para ser uma casa de hospedagem para peregrinos e visitantes.
Tudo começou com a construção de uma pequena capela barroca de madeira para os fiéis que já subiam a Serra do Caraça no final do século XVIII.
Desde o início da obra, em 1775, a ermida recebeu o nome de Nossa Senhora Mãe dos Homens e tinha altares e dois púlpitos dourados pelo Mestre Ataíde, artista mineiro renomado.
A capela comportava até 100 pessoas e foi utilizada até 1876, quando foi desmanchada para a construção da atual igreja neogótica.
Colégio e Seminário
O Irmão Lourenço deixou o Caraça de herança para a Coroa Portuguesa.
Após a morte do religioso em 1819, Dom João VI doou a propriedade para a Congregação da Missão.
Em 1820, dois Padres Lazaristas (Vicentinos) fundaram o Colégio do Caraça, que em 1824 recebeu o nome Casa Imperial de Nossa Senhora Mãe dos Homens.
Foi Dom Pedro I que concedeu ao Caraça o título de Casa Imperial e permitiu que as armas do império fossem esculpidas em sua fachada.
Dom Pedro também visitou o Caraça.
Ele esteve no Santuário em 17 e 18 de fevereiro de 1831 com sua esposa, Dona Amélia.
Durante quase 150 anos, o colégio se dedicou à educação e à formação intelectual de meninos e de seminaristas.
Os jovens chegavam com 10 ou 11 anos e saíam com 16, 17 anos.
O local era referência na educação e por lá passaram os futuros Presidentes da República Afonso Moreira Pena, matriculado em 1859, e Artur da Silva Bernardes, matriculado em 1887.
Porém o colégio foi desativado depois de um incêndio no dia 28 de maio de 1968.
A causa foi o esquecimento de um fogareiro aceso na sala de encadernação.
A partir da década de 1970, o Santuário do Caraça foi reativado como pousada.
Atualmente o Santuário do Caraça é um centro de peregrinação, cultura, educação, turismo e ecologia.
Estrutura
O conjunto arquitetônico do Complexo Santuário do Caraça é formado por um núcleo histórico composto pela igreja neogótica, o claustro, as catacumbas debaixo da igreja, as ruínas do antigo colégio (onde hoje funcionam o museu e a biblioteca), os jardins, o calvário e a capelinha.
14 capelinhas em memória da Paixão do Senhor formam a Via-Sacra, situada no Calvário.
Na área da reserva também estão localizados a Fazenda do Engenho, o Buraco da Boiada, a Fazenda do Capivari, a Casa Santa Helena e a Casa das Sampaias.
Também há restaurante, lanchonete, loja, centro de visitantes, lago, parquinho, trilhas sinalizadas e cachoeiras.
Tem ainda sala de TV, jogos e cantinho da criança.
Todos os ambientes são um convite à leitura, ao silêncio, à meditação e a contemplação da natureza.
Santuário Neogótico de Nossa Senhora Maria Mãe dos Homens
O Santuário de Nossa Senhora Maria Mãe dos Homens é a primeira igreja neogótica do Brasil.
O Padre Clavelin, que foi o superior de 1867 a 1885, desenhou, projetou e edificou o Santuário.
A construção começou em 1876 com material local e levou sete anos para ser concluída.
Foram usados pedra sabão, mármore e quartzito.
No dia 27 de maio de 1883, o templo em estilo francês foi consagrado.
A igreja por dentro
Logo na entrada vemos dois altares laterais barrocos que foram pintados pelo Mestre Manoel da Costa Ataíde.
A imagem de Nossa Senhora das Dores pertencia à antiga ermida do Irmão Lourenço.
Outro trabalho do Mestre Ataíde decora a igreja.
A Santa Ceia é uma obra de 1828.
No altar, a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens se destaca.
Os vitrais e um órgão de tubos também fazem parte do acervo da igreja.
Relíquias
Além da beleza arquitetônica, o Santuário possui importantes relíquias.
A primeira, que pouca gente conhece, é uma relíquia da cruz de Cristo, que está no alto da torre da igreja.
A segunda está bem visível, no altar do Santuário.
São Pio Mártir, o primeiro corpo de santo que veio para o Brasil
A relíquia do santo veio de Roma e chegou ao Caraça em 1797, como oferta do Papa Pio VI e por muito tempo foi a maior relíquia do país.
O soldado romano cristão, morto por confessar sua fé, foi encontrado nas catacumbas romanas e recebeu o nome do Papa da época.
O corpo revestido de cera está exposto num relicário sob o altar e é possível perceber as unhas e os dentes superiores do Mártir.
Num cálice, há areia de seu túmulo e um pouco de sangue.
Santuário do Caraça: hora do Lobo
O nome Guará em tupi-guarani significa “vermelho” e seu nome científico (Chrysocyon brachyurus) quer dizer “animal dourado de cauda curta”.
O lobo da região do Caraça tem o corpo todo dourado, as patas e os pelos da nuca pretos, a cauda, o papo e um pouco do rosto brancos.
É o maior canídeo da América do Sul e é da mesma da família do cachorro, do cachorro-do-mato, do coiote, do chacal, da raposa e do lobo europeu.
O lobo-guará não está mais na lista dos animais ameaçados de extinção, mas ainda está na lista dos animais vulneráveis.
A tradição de esperar a visita do animal todas as noites começou no Caraça em maio de 1982, quando descobriram que era o lobo-guará que revirava as lixeiras.
Começaram a colocar bandejas de carne e aos poucos os lobos se aproximaram da escada da igreja.
Hoje a “hora do lobo” acontece a partir das 18h30 na frente da igreja.
Ninguém sabe se o animal vai aparecer porque seu hábito de caça não foi comprometido, graças a preservação da reserva do Caraça.
Nas duas noites em que estivemos no Caraça, o lobo não apareceu.
Quem roubou a cena foi uma anta, que se deliciou com a bandeja de frutas sem se incomodar com a plateia.
A “Hora do Lobo” virou a “Hora da Anta”, rs.
Apartamentos da pousada
A pousada do Santuário do Caraça possui 41 apartamentos e 8 quartos com banheiros externos, além de algumas casas, com acomodações mais simples, para a hospedagem de até 200 pessoas.
As diárias são com pensão completa e acesso a área da reserva natural.
Os apartamentos estão divididos nas alas do Santuário, do Irmão Lourenço, do Claustro, dos Irmãos, da Carapuça, no Sobradinho Afonso Pena e nas Suítes Imperiais.
Todos os apartamentos, com exceção das suítes, tem o mesmo valor.
Há ainda o Chalé, a Casa da Ponte, que comporta até 15 pessoas, e a Casa São Luís, que comporta 10 pessoas.
Só as casas possuem televisão.
Sobradinho Afonso Pena
Fomos acomodados no Sobradinho, que fica na parte externa do Santuário, no primeiro andar, sobre a recepção e com acesso por uma escada estreita.
A janela dá para a área de serviço, por onde circulavam veículos, então sempre havia barulho de carros e funcionários.
Aqui vale observar que nós fomos os únicos hóspedes alojados nesse local.
A pousada estava com pouca gente e todos os visitantes estavam nas alas ao lado do Santuário e próximos aos dois refeitórios.
Não houve justificativa quando questionamos no check-out o motivo da acomodação ter sido diferente.
Esse foi o ponto negativo da nossa estada, por isso sugerimos que verifique logo no check-in a localização do seu quarto.
Com relação a estrutura, o alojamento é bem amplo, com camas, armário, penteadeira e até berço.
O frigobar não é abastecido.
O banheiro é pequeno, com amenidades e água quente.
Santuário do Caraça: refeitórios
Almoço e o jantar
O Caraça possui dois refeitórios com refeições em sistema de buffet.
O maior é reservado para o almoço e o jantar.
O local é o mesmo usado pelos antigos alunos e padres no tempo do colégio.
Ainda existe o púlpito onde um aluno lia durante as refeições.
Ele ficava num ponto mais alto do salão.
Um quadro de George Grimm do Santuário do Caraça enfeita o refeitório.
Ele foi pintado em 1885 a pedido de Dom Pedro II.
Café da manhã
O café da manhã é no refeitório menor.
Aqui o detalhe é para o fogão de lenha e a chapa onde os próprios hóspedes podem preparar seus ovos, por exemplo.
O cardápio mineiro está presente em todas as refeições, mas há opções variadas para todos os gostos.
A comida de todas as refeições é muito gostosa.
Uma nutricionista supervisiona todo o preparo.
Os visitantes que não estão hospedados podem almoçar no local pagando a taxa da refeição.
Trilhas
Além da parte histórica, religiosa e da comida gostosa, o Santuário do Caraça também oferece muitos atrativos naturais para os visitantes.
Durante o dia dá para fazer trilhas até cachoeiras, piscinas naturais, tanques, antigas construções, capela, grutas e picos (para esses, é obrigatório ter guia).
Tem trilha para todos os níveis, de pequena, média e grande distância.
Em algumas atrações, como um dos mirantes e a piscina, dá pra chegar de carro.
Trilhas que percorremos
Fizemos a trilha da Cascatinha, formada por 4 quedas d’água com altura de 40 metros e 4 piscinas naturais.
A cor da água é amarelada por causa das matérias orgânicas que descem da serra.
São apenas 2 km do Santuário e o acesso é fácil.
No caminho tem entradas à direita para o campo de futebol, a Prainha e a Bocaina.
Tinha uma pequena praia no caminho…
Passamos pela Prainha, que é um recanto com areia fina por onde passa o Ribeirão Caraça.
As águas são rasas e tranquilas e dá para tomar banho.
O acesso também é fácil, plano e sem desníveis, a menos de 1 km do Santuário.
Outra trilha que visitamos foi a da Capelinha.
O caminho leva até a Capelinha do Coração de Jesus, que está 200 metros acima do Centro Histórico.
Ao lado da capela estão as ruínas de uma antiga edificação.
O acesso é por uma trilha íngreme de 2 km dentro da Mata Atlântica.
Em alguns trechos, um cabo de aço ajuda os visitantes na subida pelas pedras.
Dessa trilha também podemos avistar o Santuário do Caraça.
Quem quiser continuar a caminhada, pode seguir mais 3 km de trilha íngreme até a Gruta de Lourdes, que teve a imagem de Nossa Senhora de Lourdes entronizada em 1904.
Nossa última parada foi na Piscina do Caraça, que está a menos de 2 km do Centro Histórico.
Mas esse é um tipo de piscina rústica, sem ladrilhos, e com água corrente.
O acesso é pela estrada asfaltada que leva ao Santuário até à placa indicativa, depois é só virar à esquerda.
Seguindo por uma trilha rápida, chega-se ao Mirante da Piscina, de onde se vê a Serra do Espinhaço, o Tanque Grande e a Bocaina.
É um bom ângulo para ver a formação que lembra o perfil de uma pessoa deitada (seria um gigante?), uma das teorias do nome do Santuário.
Na própria estrada asfaltada também há um mirante para o Santuário do lado esquerdo, é só estacionar o carro.
Outras trilhas para visitar
Há ainda a trilha de 6 km que leva até a Cascatona; a Bocaina entre o Pico do Inficionado e a Caraça; a trilha para o Tanque Grande que tem menos de 2 km; a dos Pinheiros, que também tem menos de 2 Km e de onde se avista o perfil do gigante deitado na Serra do Espinhaço: a Caraça.
Já os Taboões estão a 4 km do Centro Histórico do Caraça, com acesso de carro por estrada asfaltada em um trecho e mais uma caminhada de 10 a 15 minutos.
O Banho do Belchior é uma corredeira de água e está a 2 km do Santuário, com acesso de carro por estrada asfaltada em um trecho e mais uma caminhada leve.
O Banho do Imperador ganhou esse nome depois da visita de Dom Pedro II, que relatou em seu diário ter tomado banho no local.
Também era ali que os estudantes dos tempos do Colégio tomavam o banho semanal.
O banho fica a poucos metros do Centro Histórico, com acesso pela estrada asfaltada.
No caminho tem até o registro em uma pedra onde o Imperador teria escorregado e caído sentado.
O local virou mais uma atração “histórica” do Caraça.
Tem ainda a Ponte do Bode, com acesso fácil pela estrada asfaltada.
Museu e biblioteca
O museu e a biblioteca funcionam no antigo prédio do colégio.
Um monitor nos apresenta o acervo do museu, formado por peças de mobiliário, vestimentas, fardamentos e artefatos diversos de uso diário do colégio, antes do incêndio.
Algumas peças são de séculos anteriores.
O fogareiro que causou o incêndio que deixou o colégio em ruínas também está exposto.
O destaque do museu são as camas em que o Imperador e a Imperatriz dormiram quando estiveram do Caraça, além de mobiliários do quarto que usaram.
A biblioteca guarda o que restou do grande acervo de livros salvos do incêndio, como obras de 1867.
Restaram aproximadamente 15 mil livros de um acervo de mais de 40 mil obras.
Para visitar o museu, é necessário agendar na recepção e pagar uma taxa de R$ 5 por pessoa.
Serviço
O acesso ao Complexo Santuário do Caraça é pelas rodovias BR 381 e MG 436.
O horário de funcionamento de segunda a domingo é das 8h às 17h, com entrada até às 15h.
A saída após as 17h está sujeita a multa.
A taxa de visitação de segunda a sexta-feira é de R$ 30 por pessoa, exceto nos feriados e datas comemorativas*.
Nos finais de semana, feriados e datas comemorativas, o valor é de R$ 40.
Idosos a partir de 60 anos pagam meia-entrada.
A entrada é gratuita para crianças de até 5 anos de idade
Acompanhe mais roteiros em Minas Gerais aqui no blog.
Viagem realizada com a assessoria da Atlas Turismo.
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Salve essa dica de passeio e hospedagem no Santuário do Caraça, em Minas Gerais. Clique no pin.
Nossa! Que lindas paisagens! Adorei a dica do Santuário do Caraca, em Minas Gerais!
Sua família está de parabéns! Parece ser um passeio maravilhoso!
Oi Alessandra, tudo bem?
O Santuário do Caraça é um passeio que a gente adorou fazer em Minas Gerais.
Gostamos tanto que ficamos por lá alguns dias.
Obrigada por acompanhar a nossa família.