Vapor do Vinho, uma viagem pelas cores, sabores e aromas do rio São Francisco

“E às margens do rio de águas caudalosas

pequenas cidades com história famosas

de congados, tiroteios, ladainhas,  jagunços e novenas

e amantes que roubam mulheres morenas!

Ah! Meu Rio São Francisco, o rio mais brasileiro”

( Trecho da poesia Rio São Francisco, de Jesuíno Antônio D’ávila)

É com a poesia de Jesuíno Antônio D’ávila que somos recebidos no passeio do Vapor do Vinho, na orla de Petrolina, no Semiárido Pernambucano.

O passeio atrai turistas de vários estados do Brasil e até de outros países que, durante um dia, usufruem das belezas e riquezas que nascem graças ao generoso rio São Francisco.

O Vapor do Vinho é uma alusão aos antigos vapores que navegavam pelo Velho Chico e é o único roteiro da América Latina com esse formato.

O passeio começa às 8h30, quando todos se acomodam em uma van e dois ônibus climatizados. Ao longo da viagem até o município vizinho de Casa Nova, já no estado da Bahia, conhecemos mais sobre o Vale do São Francisco.

O Família que Viaja Junto foi convidado para conhecer o passeio do Vapor do Vinho e levou o reforço do vovô e da vovó. Vamos embarcar com a gente?

Notas sobre Petrolina e Juazeiro

Petrolina, cidade hoje com mais de 300 mil habitantes, antiga passagem para Juazeiro, na Bahia, cresceu e virou referência na agricultura irrigada, saúde, educação e culinária, com espaços gastronômicos como o Bodódromo e o Galinhódromo.

Há várias versões para o nome da cidade, a minha preferida é a que diz que o nome foi inspirado em uma pedra linda na região onde a Catedral Sagrado Coração de Jesus foi construída.

Juazeiro, na margem direita do São Francisco, já em terras baianas, era repouso para os tropeiros. Eles descansavam à sombra de um pé de Juazeiro, daí o nome da cidade.

Entre outros atrativos, Juazeiro também se orgulha por ter cinco artistas premiados com o Grammy Latino, entre eles João Gilberto, Manuca Almeida e Targino Gondim. Juntas, Juazeiro e Petrolina produzem uma grande variedade de frutas que são exportadas para o mundo

Para chegar à região de avião, a porta de entrada é o Aeroporto Internacional Nilo Coelho, com a segunda maior pista do Nordeste. Há voos diários e só em 2015, o aeroporto chegou a ter até 800 passageiros por dia (dados fornecidos durante o passeio Vapor do Vinho e disponíveis nesse blog).

Juazeiro e Petrolina também possuem uma rede hoteleira completa, shoppings e restaurantes com uma variada oferta culinária para receber os visitantes.

Vinícola Ouro Verde

Há 45 km de Petrolina, está a Vinícola Ouro Verde, do Miolo Wine Group, que produz a linha Terra Nova e tem alguns vinhos premiados. É lá a nossa primeira parada.

A fazenda tem 200 hectares de plantio de uva vinífera, ou seja, aquela destinada à produção de vinho. São 6 variedades de uva para vinho tinto e 4 para os brancos. Entre as variedades para os tintos estão a Shiraz e Grenache.

Já as brancas são a Cheninblanc, Verdejo, Sauvignon Blanc e os Moscateis. Também são produzidos vinhos rosé, resultado da mistura entre tintos e brancos, espumantes e o brandy.

O sol o ano inteiro e a água do São Francisco garantem uvas mais doces e duas safras da fruta anuais. Por isso, o Vale do São Francisco tem uma rota do vinho que envolve outros municípios na Bahia e em Pernambuco.

No passeio Enoturístico pela Ouro Verde, guiado por um Enólogo, os turistas conhecem primeiro a etapa de recebimento, onde as uvas são separadas, esmagadas e destinadas a cada tipo de produção.

Depois de retirado o líquido das uvas, a próxima etapa é a destilaria para o armazenamento nos taques de fermentação alcoólica.

Na sala das barricas, os vinhos ainda tem 60% de teor alcoólico, por isso eles entram no processo de envelhecimento.

Toda essa etapa é feita em barris de carvalho americano, considerados os mais apropriados para ativar o aroma e sabor da bebida. Os vinhos podem ser testados em 1 ano, já o brandy demora até 10 anos para ficar pronto.

A vinícola tem ainda 14 tanques de espumante. Nessa sala os visitantes podem ouvir o estrondo da válvula de pressão quando o enólogo libera o gás acumulado.

O passeio de cerca de duas horas termina na sala de degustação, onde os turistas aprendem desde a forma correta de pegar na taça até apreciar o aroma da bebida, antes de prová-la.

Cada turista recebe 4 taças e a sequência de degustação começa pelo tinto Terra Nova Shiraz. Segundo o enólogo, a bebida possui a maior concentração do Vale do São Francisco de resveratrol, uma substância com muitos benefícios para a saúde, entre eles, a prevenção de vários tipos de câncer.

O brandy Miolo Imperial é a segunda bebida a ser degustada. Com 38% de álcool, esse é o produto que envelhece por cerca de 10 anos antes de ser liberado para consumo.

O branco Late Harvest, com menor teor alcoólico, mais doce e licoroso, é o terceiro a ser provado pelos visitantes.

Por último, o brinde é com o espumante Moscatel, um dos mais vendidos da vinícola. Dos 2 milhões de litros produzidos pela Ouro Verde por ano, 1 milhão são desse espumante. E o enólogo ainda dá dicas de como consumir a bebida e abrir a garrafa, sem desperdício.

Para as crianças e para quem não consome bebida alcoólica, a degustação é com o suco com 100% de uva Sunny Day, vendido em garradas de 300 ml e 1 litro.

O final da visita é na cantina, onde todos os produtos estão à venda. De acordo com o site da vinícola, 20 mil turistas visitam o local todos os anos.

Antes de deixar a fazenda, os turistas ainda conhecem os parreirais e podem degustar algumas uvas.

Vapor do Vinho

De volta à estrada, vamos em direção ao maior lago artificial do mundo (informações do site da Chesf), o Lago de Sobradinho. Para chegar lá, passamos por uma vila de pescadores onde pegamos a barca Rio dos Currais, um dos muitos nomes que o São Francisco já recebeu.

A barca tem capacidade para 120 passageiros, com música ao vivo e banheiros identificados com lendas da região.

Para chegarmos ao lago, temos que passar pela eclusa, uma espécie de “elevador de água” que leva o barco do ponto mais baixo do rio para o reservatório da Chesf. Esse é talvez o momento mais esperado do passeio, quando o barco sobe até 32 metros para chegar ao lago.

Todo o processo dura em torno de 20 minutos. O barco entra numa câmara de 120 m de comprimento por 17 de largura, as portas se fecham e o tanque começa a encher. Quando a água sobe até o nível do lago, outro portão enorme abre passagem para entramos na barragem.

A entrada na barragem é um momento emocionante!

A barragem de Sobradinho tem 320 km de extensão e armazena até 34 bilhões de m³ de água para a geração de energia.

É como se fosse uma grande caixa d’água para manter uma vazão para as demais barragens do São Francisco a jusante (até a foz), a exemplo de Luiz Gonzaga em Petrolândia-PE, Moxotó-AL, Paulo Afonso I, II, II ,IV, na Bahia, e por último Xingó, entre Sergipe e Alagoas.

Olhando a imensidão do lago, nem parece que a barragem estava só com 5% de sua capacidade no dia da nossa visita, em Novembro de 2016. Mas o local é a fonte de renda para muitas famílias que vivem da pesca e de criatórios em cativeiro, como os tanques-redes de tilápia.

E foi a tilápia um dos pratos do almoço a bordo, que também teve carne de sol, pirão e outros acompanhamentos. De sobremesa, frutas. Uma experiência diferente comer com essa paisagem.

A navegação até o lago segue em direção à Ilha da Fantasia, mas a grande atração mesmo é o banho no São Francisco. No local onde a barca atraca na ilha, a água quase não tem correnteza e o rio é raso. As crianças adoram o banho e a paisagem é linda.

Na volta do passeio, o Vapor do Vinho encerra seu trajeto na Hidrelétrica de Sobradinho. Do barco avistamos a Usina da Chesf, construída de 1973 a 1979. As visitas a hidrelétrica são gratuitas, mas devem ser agendadas.

No dique de 13,5 km da barragem, nos despedimos do Vapor do Vinho e pegamos a estrada de volta para Petrolina. Mas ainda dá para apreciar o pôr do sol nesse grande mar de água doce também chamado de rio da Integração Nacional. Paisagens, cores, aromas e sabores para ficar na memória. Essa foi a nossa experiência, que tal viver a sua?!

Agendamento de Passeios

O Vapor do Vinho funciona todos os sábados, domingos e feriados. Das 8h30 às 17h. Para outras datas, os agendamentos devem ser feitos para grupos de no mínimo 30 pessoas.

O valor do passeio é de R$ 145, com almoço incluso. Crianças de 6 a 9 anos pagam R$ 72 e abaixo de 5 anos não pagam. Bebidas alcoólicas e petiscos não estão incluídos no pacote.

Os agendamentos podem ser feitos pelos fones 74 98815 1987 e 74 9914 79991.

“Velho Chico novo és, com suas águas bentas transforma- se em vinho

e que a chama da caldeira, alimente a alma inteira do ribeiro ribeirinho

com esse roteiro enoturístico ‘Vapor do Vinho’”

(trecho da poesia Vapor do Vinho e Saldanha Marinho, de Luiz Rogério Pereira, 2014)

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